É muito comum em conversas com amigos, colegas e familiares ouvirmos a expressão “preciso fazer um check up”. Essa é sabidamente uma das principais atividades realizadas em um consultório de cardiologia, mas apesar de parecer algo corriqueiro, você sabe o que isso significa na prática e qual é a sua importância?
O que é Check Up Cardiológico?
Pois bem, em uma consulta de “check up” temos por objetivo fazer o diagnóstico ou acompanhamento de doenças orgânicas, bem como orientar sobre hábitos de vida nocivos que possam elevar o risco do paciente de apresentar uma doença do sistema cardiovascular. Dentre essas podemos citar infarto, AVC, doença arterial periférica, entre outras.
A partir disso, utilizamos escores validados pelas sociedades de cardiologia mais respeitadas do mundo para estimar de forma percentual o risco de algum desses eventos ocorrerem, em geral, dentro dos próximos dez anos. A maioria deles leva em consideração fatores como idade, comorbidades, história familiar, achados laboratoriais e exames de imagem.
Por que fazer essa avaliação? Devo fazer mesmo sem sentir nada?
Segundo dados oficiais da OMS divulgados em 2019, as patologias cardiovasculares foram líderes em mortalidade, sendo responsáveis por cerca de 30% dos óbitos no mundo.
A grande maioria das doenças que aumentam o seu risco (hipertensão, diabetes, colesterol alto) são assintomáticas por anos e muitas vezes tem como sua primeira manifestação clínica um infarto ou AVC, por exemplo. Segundo o PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) divulgado em 2013, a prevalência de hipertensão arterial em 59.400 indivíduos acima de 18 anos que foram avaliados era de 23%. De toda a população com o diagnóstico, apenas 33% tinha a doença controlada. Da mesma forma, de acordo com o que foi publicado pela Federação Internacional de Diabetes em 2019, o Brasil ocupava o quinto lugar no ranking mundial de portadores da doença. Aproximadamente 46% deles desconhecia o diagnóstico de tal condição previamente.
Portanto, fica evidente que o rastreio realizado da forma correta e no momento adequado é essencial na prevenção de desfechos negativos.
Em que momento devo fazer?
A medicina não é uma ciência exata, portanto, a idade para iniciar o acompanhamento é variável e depende da história familiar, da presença de doenças prévias já diagnosticadas e da existência ou não de sintomas sugestivos.
De uma forma geral, indica-se que um primeiro rastreio básico de fatores de risco seja feito por volta dos 20 anos de idade. A partir de então, a periodicidade do acompanhamento e a realização de exames complementares ou não serão individualizadas a depender do que for encontrado na avaliação inicial.
É válido dizer que a adoção de hábitos saudáveis de alimentação, prática de atividades físicas regulares e orientadas e a interrupção do tabagismo têm efeitos positivos sobre a redução de risco cardiovascular em qualquer idade.
Quais exames devem ser realizados em uma primeira avaliação?
Coleta de história clínica e exame físico
O seu médico irá te ouvir, perguntar sobre a existência de sintomas, histórico familiar, medicações em uso e doenças prévias. Em seguida, irá proceder ao exame físico, no qual buscará de forma objetiva por achados mais evidentes que sugiram alguma patologia. Além disso, medirá seu peso, altura e valor da circunferência abdominal, a qual é sabidamente um fator de risco.
Aferição da pressão arterial
A mesma deve ser feita com o paciente em repouso há pelo menos 30 ou 40 minutos, com o braço apoiado em um anteparo e na altura do coração, de bexiga vazia e sem uso de bebidas ou medicamentos estimulantes dentro da última hora idealmente. Na primeira vez a aferição deve ser feita em ambos os braços.
Glicemias
Como comentado anteriormente, a diabetes é uma doença silenciosa por muito tempo e, portanto, deve ser pesquisada ativamente.
Colesterol
À doença caracterizada pelos altos níveis de colesterol damos o nome de Dislipidemia. Na maioria dos casos também não apresenta manifestações clínicas precoces e, por isso, deve ser buscada. Cabe ressaltar que os níveis considerados ideias de colesterol não são iguais para todas as pessoas, sendo variáveis de acordo com o risco cardiovascular de cada paciente.
Provas de função renal
Apesar de não ser obrigatório em uma primeira avaliação, principalmente em indivíduos mais jovens, alterações renais podem ser causa ou consequência de doenças do sistema cardiovascular. Tais pacientes são mais propensos a desenvolver infarto agudo do miocárdio e hipertensão, por exemplo, ao passo que as principais causas de doença renal crônica no mundo são hipertensão e diabetes.
A necessidade de realizar exames adicionais ficará condicionada ao que for evidenciado no rastreio inicial.
Mensagem final: As doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade no mundo, sendo dividida em vários espectros. A grande maioria dos seus fatores de risco são silenciosos por muito tempo e, portanto, precisam ser ativamente procurados. Outros estão ligados ao estilo de vida e alimentação, os quais podem ser modificados a qualquer momento, desde que com acompanhamento profissional e da maneira correta. Procure um médico de confiança e comece a cuidar da sua saúde!